sábado, 11 de agosto de 2007

DOCTOR WHO 2005 (2005-2007)

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Sobre Doctor Who 2005 (2005-2007)

Visão geral:

A série de TV Doctor Who 2005 (de 2005) traz uma versão atualizada do mitológico personagem (e ícone britânico): um genial alienígena (conhecido apenas como: "O Doutor") de aparência humana e que navega o espaço e o tempo a bordo da sua nave (a TARDIS), a qual exteriormente parece ser apenas uma antiga cabine telefônica policial da Londres de 1963, e é maior por dentro do que por fora. Ele geralmente viaja com um ou mais humanos, chamados de companheiros. De tempos em tempos, geralmente após ser fatalmente ferido, ele se "regenera", assumindo uma diferente e nova forma humana (o que sempre permitiu a mudança dos atores que interpretaram o personagem ao longo dos anos).

O personagem do doutor é um dos mais antigos e mais bem conhecidos no SCIFI televisivo mundial. Sua antiguidade, longevidade e identificação com país de origem parecem ser comparáveis apenas com as de Star Trek dos Estados Unidos da América e Ultraman do Japão.

A principal força criativa por trás destas três primeiras temporadas de Doctor Who 2005 foi o britânico Russell T Davies (de séries controvertidas como Queer As Folk e The Second Coming), fã confesso do personagem (com o qual partilha o mesmo ano de nascimento), ele procurou ser fiél aos melhores momentos de seus mais de quarenta anos de história enquanto o adaptando aos dias de hoje. Entre 39 episódios regulares e 3 especiais natalinos, ele escreveu metade dos segmentos da nova série até aqui. Davies é considerado hoje (agosto de 2007) provavelmente o mais influente Gay de todo o Reino Unido e o mais importante produtor de TV também. A série do doutor é muito popular em seu país de origem, indo muito além de uma audiência de nicho de ficção científica. É um programa para toda a família. Todas as famílias.

Davies, para atualizar o personagem do doutor, buscou inspiração (por admissão própria) no americano Joss Whedon (Buffy, Angel e Firefly). O que não quer dizer que os trabalhos anteriores do britânico já não apontassem em similares direções. Eis alguns exemplos:

- Cada temporada televisiva têm um arco de história (ou tema recorrente) distinto e bem definido;

- Diálogos são extremamente afiados (muitas vezes mesmo indulgentes) e repletos de referências (populares ou não, obscuras ou não), os diálogos também objetivam a criação de um dialeto próprio em si mesmos;

- Metáforas embutidas em tramas e situações, não deixando os personagens terem percepção das mesmas (os personagens simplesmente tratam dos acontecimentos em seus termos dentro do seu próprio universo ficcional);

- Relacionamentos entre pessoas de mesmo sexo são comuns e tratados sem maior estardalhaço etc.

Entretanto a influência de Whedon pode não ser suficiente para suavizar a herança britância do programa para pessoas que tem como hábito (essencialmente exclusivo) assistir a séries originárias da terra do Tio Sam. Para melhor apreciar a série do bom doutor, pode ser necessário que alguns espectadores potenciais tenham que trocar o chip (TM)!

Ainda assim não devemos sofrer de uma síndrome de Borat em reverso (TM) em que tudo é justificado uma vez que "eles são britânicos e este é o jeito deles". Tentativas de humor e metáforas óbvias e grosseiras são ruins em qualquer país de forma independente da herança cultural. Episódio padrão de monstro é ruim em qualquer pátria, assim como uma óbvia falta de conhecimento científico. Atitude juvenil e uso de melodrama fora de controle idem. Tais problemas (e outros) aparecem na série mais do que os seus fãs mais devotos e fervorosos gostam de admitir. O importante é que, apesar de tais defeitos, e em seus melhores momentos, o programa é capaz de transcende-los oferecendo uma única combinação de leveza, excitação, beleza, pathos e senso de deslumbramento, que só podemos esperar de um dos definitivos pilares do gênero.

A nona encarnação do doutor foi vivida por Christopher Eccleston durante a primeira temporada da nova série. A partir do final do último episódio da primeira temporada em diante (até agora) tivemos a décima encarnação do doutor, vivida por David Tennant.

A principal companheira nas duas primeiras temporadas e no primeiro especial natalino foi Rose Tyler (vivida pela atriz Billie Piper) . Na terceira temporada tivemos como a principal companheira Martha Jones (Freema Agyeman). No segundo especial natalino tivemos Donna "A Noiva" Noble (Catherine Tate). O terceiro especial natalino (o de 2007) envolve o Titanic.

Tate voltará (no mesmo papel) como a principal companheira na já confirmada quarta temporada (em 2008). Junto comTennant e Davies é claro. Agyeman participará apenas do arco final da temporada (após uma programada aparição na segunda temporada de Torchwood).

Agora a analise episódio a episódio e em seguida os seus valores relativos. Os especiais natalinos não possuem comentários, apenas valores relativos.

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PRIMEIRA TEMPORADA (2005) (ANÁLISE):

O arco da primeira temporada gravita em torno da recorrente frase "Lobo Mau", que teima em aparecer em praticamente todo o episódio e nas situações mais improváveis. Ao final é revelado que Rose Tyler, de posse de poderes equivalentes aos de uma espécie de "Deusa Temporal" (TM), deixou tais "referências" como uma mensagem para ela mesma. O arco termina definitivamente a Guerra Temporal entre os Senhores do Tempo (a raça do doutor) e os Daleks (os seus inimigos mortais). É globalmente a mais satisfatória das três primeiras temporadas da nova série.

Rose & The End Of The World: O início da nova série não foi muito inspirado. Os manequins animados são mais ridículos do que interessantes e o seu mestre é o mais típico monstro da semana. Salvando-se a apresentação da titular em Rose. O episódio seguinte (The End Of The World) teve mais sorte, apesar do seu forte ser essencialmente o conceito do vislumbre do último suspiro natural da Terra (seguindo o final do ciclo de vida do Sol). Destaque para introdução da Face de Boe.

The Unquiet Dead: O primeiro verdadeiramente bom episódio da nova série. O Nono Doutor e Rose visitam o escritor Charles Dickens ao mesmo tempo que os mortos voltam a vida nas imediações. Cuidados com a produção e vislumbre de elementos do arco da temporada (via a excelente heroína do episódio, a personagem Gwyneth) coroam a curiosa história.

Aliens Of London (I) & World War Three (II): Aqui somos introduzidos aos tediosos Slitheen, a sua capacidade de assumir outras identidades em meio a uma infinidade de piadas flatulentas (ou não?) e os seus planos mirabolantes para a Terra que acabam beirando a comédia involuntária.

Dalek: O primeiro grande clássico da nova série. Um fascinante "museu particular de tecnologia alienígena" na Terra do ano 2012 guarda prisioneira uma criatura posteriormente identificada como um Dalek, aparentemente o outro único sobrevivente (além do Doutor) da Guerra Temporal. A última futilidade realizada da luta entre os dois sobreviventes de tal confronto é um marco para o novo programa.

The Long Game: A bordo de Satellite 5, uma estação de transmissão no distante futuro da Terra, somos apresentados ao mesmo tempo a uma excessiva metáfora sobre a escravidão da humanidade pela manipulação da mídia e um não menos excessivo monstro da semana que age como supervisor (!) de todo o processo. Honestamente nem dá para dizer que o episódio se alinha de fato com o final da temporada, apesar da estação aparecer novamente no mesmo.

Father's Day: Uma visita do Nono Doutor e de Rose Tyler ao cenário da morte de Peter Tyler, leva a companheira a evitar a morte do seu pai. O paradoxo faz surgir uma horda de monstruosas criaturas aladas que consomem as pessoas no local, os sobreviventes se refugiando numa igreja próxima. Obviamente (e felizmente) os tais "Ceifadores" não são o centro do episódio. Aqui cabe sim destacar o cuidado dos realizadores nos mínimos detalhes envolvendo a família Tyler daquela epoca, Rose e o Nono Doutor, preparando caminho até o inevitável e honesto desfecho, uma vez que não existe dúvida alguma Pete tem que de fato morrer, agora nos braços de Rose, para salvar a todos.

The Empty Child (I) & The Doctor Dances (II): O melhor da temporada, um dos melhores da nova série e ganhador do Prêmio Hugo de ficção científica de 2006. Cortesia do estupendo roteirista Steven Moffat. Aqui temos o gênero no seu melhor, uma clara consciência social (e mesmo intimista ultimamente), um honesto mistério, um uso de tanto belas (e marcantes) quanto bizarras (e assustadoras) imagens e a introdução de um vibrante personagem na pessoa do capitão Jack Harkness (John Barrowman), sendo tudo embalado em um pacote de múltiplas camadas e significados. BRAVO!

Boom Town: Basicamente uma Slitheen, que não morreu no episódio duplo anterior, quer explodir o mundo como parte dos seus novos planos e acaba sendo impedida e vira um ovo ao final do episódio. OH BOY!

Bad Wolf (I) & Parting Of The Ways (II): Rose, Jack e o Nono Doutor são trazidos a bordo de Satellite 5, um século após os eventos de The Long Game. Finalmente eles descobrem que a Terra tem sido controlada de forma distante por novos mestres desde antes da sua última visita a estação, porém é revelado que tais alienígenas temem o doutor de alguma forma. A atual controladora da estação trouxe o trio para ajudar a humanidade. Rose é feita prisioneira a bordo da nave dos invasores, que se revelam ser os Daleks, que de alguma forma sobreviveram a Guerra Temporal. Eles vieram invadir de fato a Terra e a estação é a última linha de defesa. O doutor tem como única opção usar uma arma que destruirá não somente os Daleks, mas toda a humanidade, salvando o resto da galáxia. Ele envia Rose para casa na TARDIS para salvá-la. De volta ao seu presente, ela não se conforma em deixar o doutor para trás e finalmente intui que todas as referências ao "lobo mau" eram dela para ela mesma. Rose abre o o "Coração da TARDIS", transformando-se essencialmente em uma Deusa do Tempo. Ela volta a estação no futuro e derrota os Daleks de uma vez por todas. O Doutor dá um beijo em Rose extraindo o excesso de energia, o que leva a sua necessidade de se regenerar. Relaxem e curtam este belo melodrama épico com carinho, onde mesmo os paradoxos temporais são postos para bom uso, para deixar as emoções ainda mais a flor da pele. Davies coloca para fora todo o seu amor pelo personagem, especialmente quando o Doutor envia Rose a bordo da TARDIS para o presente dela, para protegê-la, como prometeu a mãe da companheira. Um holograma do personagem diz o seguinte:

"
Rose, now listen, this is important.

If this message has activated, then it can only mean one thing.

We must be in danger,and I mean fatal.

I'm dead or about to die at any second with no chance of escape.

And that's OK, hope it's a good death.

But I promised to look after you, so the Tardis is taking you home.

And I bet you'refussing and moaning now, typical!
But hold on and just listen a bit more.
The Tardis can never return for me.

I'm facing an enemy that should never get this machine.
So this is what you do should do, let the Tardis die.
Just let this old box gather dust.
No-one can open it, no-one'll even notice it.
Let it become a strange little thing standing on a street corner.
Over the years the world will move on and the box will be buried.
And if you want to remember me, then you can do one thing.
That's all, one thing.
Have a good life.
Do that for me, Rose.
Have a fantastic life."

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SEGUNDA TEMPORADA (2006) (ANÁLISE):

Curiosamente o tema desta segunda temporada foi aparentemente preparar o caminho para a série derivada, com o personagem do capitão Jack Harkness como protagonista, Torchwood. Obviamente tal recorrência não sustenta a temporada, a qual tem pelo menos três episódios muito ruins, ficando isto sim a cargo do drama familiar de Rose, sua interação com uma versão alternativa do seu pai de uma Terra paralela e a sua despedida definitiva do Doutor e da série.

New Earth: Uma espécie de continuação do episódio The End Of The World. Rose e o Décimo Doutor visitam Nova Terra (algum tempo depois da destruição da primeira Terra), lá encontram a Noviça Hame e mais uma vez a Face de Boe e Lady Cassandra (que não morreu). Somos apresentados a uma excessiva alegoria sobre pesquisa médica avançada e diversas trocas de corpos, cortesia da consistentemente lamentável Cassandra. Fraco!

Tooth and Claw: Aqui o Décimo Doutor, Rose, a Rainha Vitória e um Lobisomen de origem alienígena colidem em uma surpreendente aventura, que emerge vencedora principalmente por usar pequenas brechas históricas para enfiar os seus mamutescos lampejos de bizarra criatividade. A cena final que brinca com a possibilidade da família real Britânica dos dias de hoje ser formada por lobisomens é definitivamente divertida em meio ao seu completo absurdo.

School Reunion: Uma raça alienígena planeja usar crianças de uma escola preparatória do presente como uma espécie de processador para alcançar o poder definitivo, o que curiosamente é o menos importante do episódio que traz um contagiante senso de honesta nostalgia ao marcar a aparição da antiga companheira Sarah Jane Smith (a atriz Elisabeth Sladen) e por utilizar tão bem tal evento como um momento importante para o relacionamento do Doutor e Rose. Outros destaques para o retorno do também clássico K9 (um COMPLETAMENTE ABSURDO cão andróide) e a participação de Anthony Stewart Head (o Giles da série Buffy) como o diretor da tal escola.

The Girl In The Fireplace: O melhor episódio da temporada, um dos melhores de toda a nova série, e indicado ao Prêmio Hugo de ficção científica de 2007, tudo cortesia do roteirista Steven Mofatt. Graças a bizarra necessidade de uma tripulação de andróides relógios de uma nave avariada, milhares de anos no futuro, pelo cérebro (aos 37 anos) da mitológica Madame De Pompadour (da França do século XVIII), o Décimo Doutor visita diferentes épocas da vida da figura histórica. Cada vez mais apaixonados a cada encontro. A beleza, a delicadeza e a honestidade de todos os aspectos da produção são muito difíceis de por em poucas palavras. A química entre o ator David Tennant e a atriz convidada Sophia Myles foi tanta que eles passaram a namorar após as filmagens.

Rise Of The Cybermen (I) & The Age Of Steel (II): A TARDIS vai parar em uma Terra paralela, com versões alternativas das pessoas, incluindo um vivo e rico Peter tyler. Naquele planeta um industrial criou um novo tipo de raça cibernética (os Cybermen) como uma forma de prolongar a vida humana. Uma claramente aceitável história sobre o possível fim da humanidade alternativa como a conhecemos aqui (com todos sendo "atualizados" como Cybermen), com algumas boas explorações pessoais nesta outra Terra e muito pouco além disto. Uma clara preparação para o final da temporada, mais do que qualquer outra coisa.

The Idiot's Lantern: O cenário da coroação da Rainha em 1953, com o correspondente aquecimento na compra de aparelhos de TV é um engenhoso cenário, mas que é enviado rapidamente para o toilete com o lamentável surgimento na história de um (Oh Boy!) monstro televisivo.

The Impossible Planet (I) & The Satan Pit (II): Este é provavelmente o melhor exemplo da nova série em que um aparente "Analfabetismo Científico" (TM) pode, mesmo assim, levar a um grande episódio. A vizinhança de um buraco negro parece ser de fato o local ideal para se aprisionar o mal primordial. Tudo aqui é vendido muito mais em termos de atmosfera e louca imaginação (com uma produção muito cara e complexa, que aparentemente até prejudicou os episódios imediatamente anteriores e posteriores) do que em termos de lógica e razão, com o segmento duplo funcionando em última instância, apesar do escorregadio conceito aqui desenvolvido.

Love And Monsters & Fear Her: Sejam muito bem-vindos ao pior momento da temporada em que um monstro absorvedor (e que lamentavelmente lembra muito os Slitheen) é seguido por um monstro de parede (!). O segundo segmento ainda leva uma estrela solitária mais pela infinitamente absurda cena em que o Doutor conduz a tocha olímpica até a respectiva pira. Fora isto...

Army Of Ghosts (I) & Doomsday (II) : O melhor do episódio é a sincera narrativa de Rose, que indica exatamente o que vai acontecer, o que acontece e o que aconteceu. Incluindo-se ai a antológica cena de despedida definitiva dela e do doutor. Rose não morre realmente, mas passa agora a viver (junto com o resto da sua família de fato) com a versão do seu pai da Terra alternativa e naquele planeta. Alguns podem reclamar do absurdo das presenças (especialmente ao mesmo tempo) dos Cybermen e dos Daleks no episódio, outros do modo relativamente fácil que o doutor se livra do literal oceano de alienígenas hostis, mas o episódio não é realmente sobre nada disto. Algumas irregularidades durante este segunda temporada sim, mas até que Russell T Davies mandou os espectadores felizes para o hiato do programa. E quanto a cena de despedida:

"
Where are you?

Inside the Tardis.

There's one tiny little gap in the universe left, just about to close.

And it takes a lot of power to send this projection - I'm in orbit around a supernova.

I'm burning up a sun, just to say goodbye.

You look like a ghost.

Hold on.

Can I t. . . ?

I'm still just an image.

No touch.

Can't you come through properly

The whole thing would fracture. Two universes would collapse.

So?

Where are we? Where did the gap come out?

We're in Norway.

Norway! Right.

About 50 miles out of Bergen.

It's called Darlig Ulv Stranden.

Dalek?

- Darlig.

It's Norwegian for bad.

This translates as Bad Wolf Bay.

How long have we got?

About two minutes.

I can't think of what to say!

You've still got Mr Mickey, then.

There's five of us now - Mum, Dad, Mickey and the baby.

You're not. . . ?

No! It's Mum.

She's three months gone.

More Tylers on the way.

And what about you, what are you. . . ?

Yeah, I'm back working in the shop.

Oh, good for you.

Shut up!

Nah, I'm not.

The Torchwood on this planet's still open for business. I think I know a thing or two about aliens.

Rose Tyler. Defender of the Earth.

You're dead, officially, back home.

So many people died that day, and you've gone missing.

You're on a list of the dead.

Here you are, living a life, day after day. The one adventure I can never have.

Am I ever going to see you again?

You can't.

What are you going to do?

I've got the Tardis. Same old life. Last of the Time Lords.

On your own.

I. . . I love you.

Quite right too.

And I suppose. . . If it's my last chance to say it. . .

Rose Tyler. . ."

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TERCEIRA TEMPORADA (2007) (ANÁLISE):

A premissa da temporada é intrigante: O Mestre (maior inimigo do Doutor) volta no tempo antes do início da temporada e se torna Saxon, um político (com planos nefastos) a caminho do gabinete de Primeiro Ministro da Inglaterra. O detalhe é que tais eventos são postos em movimento justamente pelos nossos heróis somente mais ao final da temporada. Infelizmente tal interessante premissa não ganha vida como deveria e a temporada se mostra de longe a mais fraca até aqui da nova série, tanto em termos de organização global (inclusive conclusivamente) quanto na qualidade continuada, semana após semana.

É definitivamente tolo pensar em simplificar os problemas dizendo que "faltou Rose Tyler" e que "Martha Jones não funcionou". Basta assistir ao episódio Blink (ver a seguir) para perceber que o que faltou mesmo e de uma maneira geral foi um pouco mais de planejamento e principalmente uma melhor qualidade de escrita.

Russell T Davies termina a temporada aparentemente desgastado. Talvez seja a hora de uma mudança, talvez trazendo a bordo Steven Mofatt que emerge desta série até aqui como uma das mais distintas vozes da ficção científica televisiva do nosso tempo

Smith And Jones & The Shakespeare Code & Gridlock: No primeiro segmento conhecemos os Judoons (raça resultante de uma fofíssima aparente mistura de Juíz Dredge com Rinoceronte) na sua caça por uma Plasmavore (uma vampira transmorfa), o qual ganha uma meia estrela extra por nos introduzir a nova companheira Martha Jones (que é apresentada como uma alternativa mais madura e distinta de Rose Tyler, algo que não é desenvolvido a contento ao longo da temporada, o que é claramente culpa do texto da série e não da atriz). No segundo testemunhamos o plano de uma trupe de bruxas alienígenas em usar as palavras escritas de Shakespeare para acabar como mundo (!). O qual também ganha uma meia estrela extra pela cena quase final em que O Bardo com muita sensibilidade figura as reais identidades do Décimo Doutor e de Martha. E finalmente o terceiro, onde conhecemos uma civilização que essencialmente vive em um engarrafamento, que também ganha meia estrela extra por trazer as últimas palavras da Face de Boe para o Doutor: "Você não está sozinho" (se referindo a existência do Mestre, um outro Senhor do Tempo, revelada no arco final da temporada a seguir) Três episódios por demais inofensivos (sempre algo entre o "regular" e o "bonzinho"), mas que pela solidez dos aspectos gerais da produção nos levavam a entender então que o brilhantismo não estava muito longe. Ledo engano.

Daleks In Manhattan (I) & Evolution Of The Daleks (II): Após assistir a esta bomba de episódio duplo ficaram duas certezas: (a) Pagar ao espólio de Terry Nation para usar os Daleks sem um bom roteiro é burrice e (b) Os Daleks sem uma muita boa história não passam de saleiros gigantes enfeitados e com um ridículo e infinitamente irritante grito de guerra. Aqui os últimos filhos de Skaro planejam sobreviver criando híbrido humanos em um high-concept de história que não perdoa literalmente nada e que passa principalmente por Frankenstein e Moreau. O erro fatal para o segmento é curiosamente humanizar os Daleks, removendo as suas características mais alienígenas e ameaçadoras, algo similar ao que os Borgs sofreram em Jornada Nas Estrelas. Tudo coroado pela literal história de amor de uma corista e um porco (Oh Boy!). Cabe ainda lamentar a não utilização (apesar dos bons valores de produção) em nenhum senso artístico coerente e consistente o tão óbvio cenário da era da depressão americana (comparem, por exemplo, com o duplo da primeira temporada: The Empty Child (I) & The Doctor Dances (II)).

The Lazarus Experiment & 42: Com a impressão de que a temporada já estava com problemas, chegam em seguida dois episódios de monstros que confirmam a instabilidade. Um monstro evolutivo seguido por um monstro solar. Que são feitos ainda piores pelas fúteis tentativas de integrá-los no arco da temporada envolvendo o Mestre. Era hora de Russell T Davies pedir ajuda.

Human Nature (I) & The Family Of Blood (II): A ajuda veio do roteirista Paul Cornell (que já havia escrito o ótimo Father's Day da primeira temporada), que trouxe uma boa dose de competente maturidade a uma temporada infelizmente repleta até então de incompetetentes high-concepts juvenis. Em desvantagem, sendo perseguido de forma obstinada por uma família de assassinos alienígenas, o Décimo Doutor decide assumir uma forma humana e sem memórias e se esconder no passado da Terra posando com um professor (sendo Martha uma empregada da escola). Tal premissa acaba sendo apenas uma desculpa para uma interessante exploração e análise desta nova figura humana do doutor, até mesmo como uma possível alternativa de vida. O uso com propósito de bizarras imagens (um dos pontos altos desta nova série) se faz novamente presente, com uma conclusão esperada (como em Father's Day), mas que emerge vencedora ao apresentar a mais alienígena, distante e impiedosa caracterização do personagem na nova série até agora.

Blink: Simplesmente o melhor episódio da temporada e talvez de toda a nova série, cortesia do estupendo: STEVEN MOFATT! Aqui estátuas de anjos são na realidade alienígenas que deslocam suas vítimas para o passado. A única salvação de Martha e do Décimo Doutor (presos sem a TARDIS em 1969) é uma jovem fotógrafa de nome Sally Sparrow. A criatividade do roteiro do episódio em utilizar a assumida não linearidade do tempo é intrigante do começo ao fim, desafiando e deslumbrando o espectador. O mais importante de tudo é enfatizar que este foi o episódio mais barato de toda a temporada e que praticamente não tivemos nele a presença do elenco regular (exatamente a mesma situação vivida pelo tétrico Love And Monsters da segunda temporada, só para fixar uma comparação), Mofatt é realmente tão bom assim.

Utopia (I) & The Sound Of Drums (II) & The Last Of The Time Lords (III): Na primeira parte, a TARDIS, afetada pela presença do absurdo do capitão Jack Harkness agora não poder morrer, leva a todos para o "Final do Universo" (com Jack literalmente "a tiracolo"). Lá os últimos humanos planejam ir para um local chamado simplesmente de "Utopia", a bordo de uma nave inventada por um certo Professor Yana. Interagindo com os visitantes, Yana se mostra ser de fato apenas a forma humana de um outro Senhor do Tempo , na realidade o inimigo mortal do Doutor, aquele conhecido apenas como: O Mestre. Ele rouba a TARDIS e volta para a Londres de aproximadamente dezoito meses antes dos eventos de Smith And Jones. Um segmento perfeitamente passável como entretenimento de qualidade e que começa a desvendar o arco da temporada. Ele recebe meia estrela extra pela verdadeira mágica que Sir Derek Jacobi faz no papel de Yana, indo muito além do que está escrito (algo deveras raro de acontecer, ao contrário do que muitos pensam). A segunda parte é ainda sólida, onde nossos heróis de volta ao presente descobrem que Saxon e O Mestre são a mesma pessoa e um inevitável (e extremo) Cliff-Hanger é preparado. Problemas: a impressão fica de que alguns elementos foram reciclados da história da Terra paralela da segunda temporada, os ajudantes robóticos do Mestre são De Facto Daleks (no que se tornaram os humanos do futuro que procuravam por "Utopia") e principalmente, não importa o número de fogos de artifício que Davies possa tentar jogar na audiência, a sua história simplesmente não possui um claro foco emocional. A terceira parte (e todo o arco) colapsa centrada em uma peça de risível melodrama na "virada de mesa" do Doutor (que ficaria muito mais adequada em algum episódio de Ultraman) e no uso do botão de reset. Talvez esteja mesmo na hora de Davies recarregar as baterias e a ausência de uma citação aqui, fica justamente para sublinhar esta distinta possibilidade.

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PRIMEIRA TEMPORADA (2005) (DE '0' A '4' ESTRELAS):

1.01 Rose (**)
1.02 The End of the World (**1/2)
1.03 The Unquiet Dead (***)
1.04 Aliens of London (I) (**)
1.05 World War Three (II) (**)
1.06 Dalek (****)
1.07 The Long Game (**)
1.08 Father's Day (****)
1.09 The Empty Child (I) (****)
1.10 The Doctor Dances (II) (****)
1.11 Boom Town (**)
1.12 Bad Wolf (I) (****)
1.13 The Parting of the Ways (II) (****)

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SEGUNDA TEMPORADA (2006) (DE '0' A '4' ESTRELAS):

2.00A Children In Need (N/A)
2.00B The Christmas Invasion (***)

2.01 New Earth (**)
2.02 Tooth and Claw (***)
2.03 School Reunion (***1/2)
2.04 The Girl in the Fireplace (****)
2.05 Rise of the Cybermen (I) (***)
2.06 The Age of Steel (II) (***)
2.07 The Idiot's Lantern (*)
2.08 The Impossible Planet (I) (****)
2.09 The Satan Pit (II) (****)
2.10 Love & Monsters (SEM ESTRELAS)
2.11 Fear Her (*)
2.12 Army of Ghosts (I) (****)
2.13 Doomsday (II) (****)

2.14 The Runaway Bride (**)

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TERCEIRA TEMPORADA (2007) (DE '0' A '4' ESTRELAS):

3.01 Smith and Jones (***)
3.02 The Shakespeare Code (***)
3.03 Gridlock (***)
3.04 Daleks in Manhattan (I) (*)
3.05 Evolution of the Daleks (II) (*)
3.06 The Lazarus Experiment (**)
3.07 42 (**)
3.08 Human Nature (I) (****)
3.09 The Family of Blood (II) (***1/2)
3.10 Blink (****)
3.11 Utopia (I) (***1/2)
3.12 The Sound of Drums (II) (***)
3.13 Last of the Time Lords (III) (**)

3.14 Voyage of the Damned (A SER EXIBIDO NO NATAL DE 2007)

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sábado, 23 de junho de 2007

BATERISTAS PESADOS

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Em ordem cronológica aproximada...

01 - Bill Ward

02 - Cozy Powell

03 - Tommy Aldridge

04 - Les Binks
 
05 - Clive Burr

06 - Kim Ruzz

07 - Nicko McBrain
09 - Mikkey Dee

10 - Deen Castronovo

11 - Scott Travis

12 - Mark Zonder

13 - Vinnie Paul

14 - Tomas Haake

15 - Sean Reinert
 
16 - Gene Hoglan
19 - Richard Christy

20 - Brann Dailor

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OUTROS NOMES CONSIDERADOS:

METAL: Lee Kerslake , Phil Ehart , Phil Taylor , Stefan Kaufmann , Ingo Schwichtenberg , Mike Bordin , Daniel Erlandsson , John Dolmayan , Chris Adler... Tim Alexander , Will Calhoun , Stephen Perkins , Brad Wilk , Matthew McDonough ,  Chad Smith... Matt Cameron , Sean Kinney...
 
(Carmine Appice , Alex Van Halen...
 
(Matt Garstka... Mike Terrana... Aquiles Priester... Eloy Casagrande... Bruno Valverde... )

THRASH & DEATH METAL: Lars Ulrich , Charlie Benante , Paul Bostaph , Tom Hunting , Kirk Arrington , Gar Samuelson , Nick Menza , Igor Cavalera , Pete Sandoval , Raymond Herrera , Jurgen Reil , Marky Edelmann , Ken Owen , Paul Mazurkiewicz...

PROG METAL: Mike Portnoy , Scott Rockenfield , Rick Colaluca , Jason Rullo , Martin Lopez ,  Martin Axenrot , Alex Holzwarth ... Aaron Harris...

TECH & EXTREME METAL: Mario Duplantier , Flo Mounier , Steve Flynn ,  Hannes Grossmann , Charlie Zeleny , Alex Rüdinger , Morgan Ågren ,  Blake Richardson  ,  Yanic Bercier ...

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quarta-feira, 13 de junho de 2007

THE GODFATHER (1972)

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"THE GODFATHER I (1972)"

Duração: 175'

Recomendação: 4/4

"The Godfather" é o mais influente filme sobre crime organizado (especialmente da Máfia - nome nunca usado no roteiro) dos últimos 35+ anos e provavelmente de todos os tempos. Poucos filmes criaram elementos tão reconhecíveis na cultura popular e foram tão citados, imitados, copiados e parodiados desde então, quanto este. Sua influência vai desde pérolas de diálogo (como "eu vou fazer um proposta que ele não poderá recusar") até os traços físicos dos atores coadjuvantes (tipos de corpo e de faces). Mesmo pessoas que nunca viram tal filme, conseguem identificar claramente múltiplos elementos originários dele. Ele é TÃO influente assim.

Deixando a sua história completamente contida no universo da "Máfia" e nos fazendo julgar todos os personagens nos termos de tal universo, "The Godfather" produz o convite à experiência cinematográfica e possibilita a abstração de idéias tão necessária a um grande épico. Transcendendo qualquer estereótipo de "melodrama sobre imigrantes Italianos", o filme se baseia fortemente em temas atemporais como vingança, lealdade, responsabilidade para com a família, necessidade de auto-afirmação, legado paterno, corrupção pelo poder etc. Sendo uma tragédia épica de proporções Quasi-Shakesperianas. Para completar tal quadro, cada aspecto da produção do filme é (essencialmente) perfeito, nunca deixando fugir o encanto do espectador.

A história é bem conhecida. Don Vito Corleone é o um dos chefes da Máfia de New York e New Jersey. Ele tem cinco filhos: Sonny (brigão e mulherengo), Tom Hagen (filho adotivo, advogado e conselheiro da "Família"), Fredo (simplório e fraco, mas no fundo com bom coração), Connie (única filha, cujo casamento com Carlo abre o filme) e Mike (o caçula). Ele também possui dois sócios de longa data: Clemenza e Tessio. Após a segunda Guerra (1945), as outras "Famílias" da Máfia querem abraçar o tráfico de drogas na região. Quando Don Vito se mostra contrário à idéia, ele sofre um atentado. Quando a vida de seu pai jaz por um fio, Mike decide recorrer a todos os meios necessários para proteger a sua família. Esta é a história das trágicas conseqüências de tal decisão.

"The Godfather" também é famoso por momentos de grande violência. De fato, existem inúmeros momentos extremos neste sentido, os quais são produzidos e inseridos com precisão cirúrgica ao longo do filme (sempre servindo a história e sempre indo direto ao ponto): a cabeça do cavalo de Woltz em sua cama, a morte de Luca Brasi, o atentado a vida de Don Vito, a morte de Paulie, Mike matando McCluskey (um capitão de polícia corrupto) e Sollozzo (um Turco, traficante Internacional de drogas - responsável pelo atentado a vida de Don Vito) no restaurante, Sonny espancando Carlo, a violência doméstica de Connie e Carlo, o fuzilamento de Sonny, a morte de Appolonia, toda a famosa seqüência do batismo (uma obra-prima do Cinema por si só - em que Michael torna-se o "padrinho" em mais de um sentido) e a morte de Carlo. Todos são intensos e breves e todos traduzem um assustador balanço entre ação e reação que serve para guiar a história.

O filme (como já foi dito) é sobre Michael Corleone, personagem que atravessa o caminho de um herói de guerra e caçula da família (namorando para casar a senhorita Kay Adams) que o pai queria poupar da vida de crime, até tomar o lugar do pai, como o novo Don Corleone ao final do filme (uma criatura muito mais brutal do que o pai jamais foi). Assim como de seu personagem, o filme é (em grande parte) de Al Pacino, com uma atuação incrivelmente densa e contida (fãs do ator de anos mais recentes, em que ele freqüentemente "espana cenário para todo lado", tem uma grande dificuldade de reconhecer tal estilo contido como o do ator e mesmo reconhecer o físico de Pacino neste filme). O momento da virada do personagem é na seqüência do hospital em que Mike percebe que se ele não fizer algo e rápido, o seu pai (em coma após o atentado contra a sua vida) vai ser morto. Ele diz então ao velho desacordado: "estou com o senhor agora". Seguindo um caminho sem retorno. Na cena da escadaria, em que fingem ser seguranças de Don Vito para enganar os assassinos enviados para dar cabo do velho, Enzo treme como um louco, enquanto Mike calmamente acende o cigarro do padeiro.

Depois Mike tem o maxilar quebrado por McCluskey, sugerindo sutilmente (aproximando-o fisicamente do seu pai) que ele seria o novo "Don" e mata um capitão de polícia, algo que nunca havia sido feito antes, mesmo apontando uma inteligente manobra de controle de danos usando a imprensa (o "show com os olhos" de Pacino na cena do restaurante, antes de cometer o duplo homicídio é indescritível - É ver pra crer!). Refugiado na Sicília, casa com Appolonia (a ama perdidamente, mas não deixa de amar e pensar em Kay o tempo todo) e tenta fazer o melhor da situação. Mas a morte de seu irmão mais velho Sonny e da sua esposa (a figura mais inocente do filme) tinham que ter uma resposta. Ele não poderia deixar a sua "família" desmoronar (ele acaba se casando com Kay no seu retorno a América).

O curioso é como os elementos de sua vingança se apresentam. O fato de Fredo ter sido maltratado por Moe Greene (elemento que é vendido mais por subtexto do que por qualquer outra coisa) em Vegas aponta para o fim de Moe. Eis que temos a cena em que Mike diz a Fredo para que ele "nunca fique contra os interesses da 'família' de novo", a face impenetrável de Michael (já reconstruída) é um monumento de poder e completamente opaca com relação aos seus planos e pensamentos (como um "Don" deve ser). Barzini é revelado finalmente como o grande vilão (de uma forma com bastante estilo e via subtexto) e tem o seu destino, juntamente com os demais "Dons" que foram coniventes com as suas manobras. Tessio, cada vez mais pressionado, trai Mike. Também recebendo a vingança do novo "Don".

O tratamento da traição de Carlo (plantada sutilmente pelo roteiro) foi o mais representativo quanto à mentalidade da "família". Ele trouxe Carlo para dentro dos negócios para mantê-lo feliz, como se tudo tivesse passado, mesmo concordando em batizar o seu filho (no fundo, obtendo um álibi perfeito) e ao final mata o cunhado e mente fria e descaradamente para a sua irmã e para a sua (segunda) esposa sobre o seu envolvimento em tal morte. Tudo pela "família".

A atuação de Brando é simplesmente mitológica. É um completo mistério como ele consegue falar e ser levado a sério ("dentro" e "fora" do Filme) mesmo com uma prótese dentária que o deixa (literalmente) com a "cara de um buldogue". Sua escolha de interiorizar todo o poder do "Don" é igualmente fantástica. O detalhado gestual do seu personagem é um show à parte de composição, com direito até a um gato que ele achou perdido dentro dos estúdios da Paramount. Sua expressão quando Vito finalmente pede o "tal favor" (que ao contrário do que a cena inicial do filme deixa no ar não é nenhuma maldade) ao agente funerário Bonasera é comovente. A cena da morte do seu personagem (largamente improvisada) é tão bela quanto singela. Brilhante!

Impressionante é a paciência de Coppola em manter um andamento constante e vigoroso e ao mesmo tempo colocar um sem-número de detalhes em cada tomada. O andamento do filme é tão consistente e seguro que ele passa muito rápido, mesmo com quase 3 horas de duração. Isto sem falar na inesquecível fotografia sombria de Gordon Willis (que partiria também para uma bem sucedida parceria com Woody Allen) e na infinitamente tocante trilha de Nino Rota (de vários trabalhos com Felini). A reconstituição de época também é maravilhosa. O elenco é excepcional (especialmente levando em conta o grande número de atores). Ainda que existam problemas isolados (Al Martino é obviamente um deles), raramente o pensamento de que alguém está "atuando" passa pela cabeça do espectador, tendo em Pacino e Brando os seus maiores destaques. As mulheres são intencionalmente escritas de uma maneira unidimensional, como parte do universo retratado. Shire e especialmente Keaton são obviamente capazes de muito mais.

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ELENCO PRINCIPAL:

Marlon Brando .... Don Vito Corleone/Andolini
Al Pacino .... Don Michael 'Mike' Corleone
Diane Keaton .... Kay Adams-Corleone
Richard S. Castellano .... Peter Clemenza
Robert Duvall .... Tom Hagen
James Caan .... Santino 'Sonny' Corleone
Talia Shire .... Constanzia 'Connie' Corleone-Rizzi
Sterling Hayden .... Police Captain McCluskey
John Marley .... Jack Woltz
Richard Conte .... Don Emilio Barzini
Al Lettieri .... Virgil 'The Turk' Sollozzo
Abe Vigoda .... Sal Tessio
Gianni Russo (I) .... Carlo Rizzi
John Cazale .... Frederico 'Fredo/Freddie' Corleone
Rudy Bond .... Ottilio Cuneo
Al Martino .... Johnny Fontane
Morgana King .... Carmella 'Mama' Corleone
Lenny Montana .... Luca Brasi
John Martino (I) .... Paulie Gatto
Salvatore Corsitto .... Bonasera the Undertaker
Richard Bright .... Al Neri
Alex Rocco (I) .... Moe Greene
Tony Giorgio (I) .... Bruno Tattaglia
Vito Scotti .... Nazorine the Baker
Tere Livrano .... Theresa Hagen
Victor Rendina .... Phillip Tattaglia
Jeannie Linero .... Lucy Mancini, Sonny's Mistress
Julie Gregg .... Sandra Corleone
Ardell Sheridan .... Mrs. Clemenza
Simonetta Stefanelli .... Appolonia Vitelli-Corleone
Angelo Infanti .... Fabrizio
Corrado Gaipa .... Don Tommasino
Franco Citti .... Calo, Michael's Bodyguard in Sicily
Saro Urzì .... Signor Vitelli, Apollonia's Father

DIREÇÃO: Francis Ford Coppola

ESCRITO POR: Francis Ford Coppola & Mario Puzo (também autor do livro)

FOTOGRAFIA: Gordon Willis

OBRAS RECOMENDADAS DO DIRETOR: "THE GODFATHER I (1972)", "THE GODFATHER II (1974)", "APOCALYPSE NOW (1979)", "THE CONVERSATION (1974)" E "THE GODFATHER III (1990)".

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APOCALYPSE NOW (1979)

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"APOCALYPSE NOW (1979)"

Duração: 153'

Recomendação: 4/4

O capitão Willard (em uma rápida reunião com o general Corman, o coronel Lucas e um civil de nome "Jerry") recebe uma missão confidencial, matar o coronel Kurtz, um dos mais condecorados soldados do exército Americano. Kurtz enlouqueceu, se tornando uma espécie de figura messiânica para os montanheses Cambojanos, que agora formam o seu exército particular, ajudando-o a promover atrocidades que beiram o inacreditável. Willard e Kurtz são das forças especiais. Willard é literalmente um agente da C.I.A usando um uniforme.

Willard pega uma carona, rio Nung acima, de um pequeno barco patrulha, comandado pelo chefe Philips e com mais três tripulantes: o maquinista Hicks (um cozinheiro especialista em molhos), o armeiro Johnson (um surfista campeão) e o também armeiro Miller (um pivete). Durante a viagem eles consomem fartas quantidades dos mais diversos tipos de droga, ouvem rock e mesmo esquiam na água. Willard serve como os olhos da audiência nesta viagem rio acima, que se mostra eficiente para criar antecipação pelo encontro com Kurtz. Willard lê o relatório sobre o coronel à medida que mergulha mais e mais na loucura que vitimou aquele militar.

Willard e cia. precisam da ajuda do tenente coronel Kilgore (comandante de uma "cavalaria de helicópteros") para atravessar um ponto do rio em que o barco não pode passar. Eles o encontram pacificando uma aldeia, alvo do seu último ataque, e são objeto de uma equipe de reportagem (formada por Coppola e companhia, aliás). Kilgore (que distribui "cartas de baralho da morte" sobre as suas vítimas, como uma "assinatura pessoal") não está muito interessado em ajudar Willard, até que descobre que o tal local do rio é um excelente ponto para prática do surf. Apesar de ser um local bem guardado com artilharia antiaérea ele ordena o ataque, "por que Charlies não surfam".

Ai que acontece a seqüência mais marcante do filme, um ataque a base inimiga ao som da "Cavalgada das Valquírias" de Wagner. Após chegar ao solo, Kilgore ordena que alguns dos seus homens testem as ondas AINDA sob fogo inimigo. Querendo também entrar na água, ele ordena um ataque com napalm sobre a floresta. Após a brutal ofensiva ele respira fundo e diz: "Adoro cheiro de napalm pela manhã".

Seguindo viagem, a tripulação do barco patrulha ainda encontra: um tigre durante uma inocente colheita de mangas (reparem na fotografia que mostra Willard e Hicks infinitamente pequenos diante da natureza), um show (que termina em confusão) de coelhinhas da playboy para os soldados de um posto militar de abastecimento, a trivial revista de um barco que termina com o massacre de uma inteira família de inocentes e a última parada na ponte de Do-Lung (que é destruída e reconstruída todos os dias, com soldados que lutam completamente no piloto automático sem saberem ao menos quem é responsável pelo lugar - muitos pedem uma desesperada carona ao barco). Aqui Johnson se droga e fica doidão até o final. A partir deste ponto do rio, só restava mesmo Kurtz.

Ataques iniciais com armas de fogo e flechas ( e lanças) vitimam Miller (ao som de uma fita gravada por sua mãe) e Phillips (que ainda tenta levar Willard junto com ele) respectivamente. Finalmente os restantes chegam ao seu destino. Um estranho templo povoado por uma multidão de nativos, alguns militares Americanos (até mesmo o soldado que foi enviado anteriormente para tentar fazer o serviço agora aos cuidados de Willard, um certo capitão Colby) e um foto-jornalista (que acaba servindo como um enlouquecido "bobo da corte" para Kurtz). O tal "santuário" é decorado por corpos, corpos decapitados e cabeças.

Finalmente (com quase duas horas de filme) Willard encontra Kurtz, após uma breve conversa Willard fica preso por um bom tempo. Kurtz continua estudando o capitão e em certo momento deixa a cabeça de Hicks de presente no colo de Willard. Durante este tempo, Kurtz conta sobre o evento que o colocou pela primeira vez em contato com "O horror...".

Ele (com sua equipe das forças especiais) havia inoculado um vilarejo contra a poliomielite. Para pouco tempo depois ouvir os gritos desesperados de um velho e ver a pilha de pequenos braços arrancados pelo inimigo. Foi neste momento, em que Kurtz percebeu até que ponto os "Viet Congs" estavam dispostos a chegar para vencer o conflito, que ele entendeu pela primeira vez o citado "horror...".

Eventualmente Willard se torna "de casa". Ele pode ficar ou partir. Fica claro que Kurtz não consegue mais viver e que ele viu algo em Willard que o qualifica para o trabalho. O capitão volta ao barco pega um facão e se esgueira até o interior do templo onde massacra Kurtz ao mesmo tempo em que os nativos também massacram uma vaca em um ritual. Quando deixa o templo, Willard é saudado como seu novo Messias, pelos montanheses, mas não se interessa pelo cargo e toma Johnson pelo braço e segue rio abaixo, com a lembrança. "O horror... O horror... O horror...".

Curiosamente o mais popular filme sobre a guerra do Vietnam (e o melhor se quisermos realmente inclui-lo neste "nicho"), utiliza tal conflito primariamente como um meio para explorar os mais sombrios aspectos da alma humana. Ele parece dizer que somos afortunados o bastante se nunca experimentarmos o tal "horror" em nossas vidas. Desta forma nunca nos damos conta do quanto estamos sempre próximos a um abismo sem fundo. Como andamos sempre sobre uma fina linha de paralelepipedos ladeada pela escuridão sem fim. Kurtz conseguiu tal "iluminação" e ainda foi mais além tentando usar tal "conhecimento" para "cumprir melhor a sua missão". Mas as coisas não funcionaram e em um certo ponto tudo que restou foi o "Horror", com lampejos da mais pura e brutal lógica (o que torna tudo ainda mais assustador). Ao final, Willard se transforma em um instrumento da própria natureza, que expurga tal "deformidade". Ao final, com o que sobrou de sua humanidade, ele abre mão de tal poder, deixando para trás um lugar que nenhum homem deveria jamais visitar.

Ao contrário do que disse várias vezes o seu idealizador (Francis Ford Coppola), "Apocalypse Now" não parece de forma alguma um compromisso entre visão artística e arrecadação nas bilheterias. Pelo contrário. O filme é um épico de tal magnitude e escopo que encontra par apenas entre as melhores obras do gênero de um seleto e pequeno grupo de outros ilustres idealizadores (entre eles Eisenstein, Tarkovsky, Lean e Kurosawa).

O que mais impressiona na direção de Coppola é a sua paciência em criar imagens absolutamente marcantes e belíssimas à medida que a simples história toma o seu curso, sem se apressar, fazendo de CADA cena um grande momento por si só. Detalhando a viagem e continuamente surpreendendo a audiência com um aparentemente interminável arsenal de tomadas criativas e uma sensibilidade a toda prova. A atmosfera vai se tornando cada vez mais densa à medida que a história progride até a sua cena final. As composições em múltiplas camadas não se perdem em um virtuosismo estéril. Elas são uma das marcas registradas do diretor. Da mitológica cena de abertura até a emblemática visão de Willard aparecendo de dentro do pântano para matar Kurtz no final, o filme parece uma colagem de grandes momentos do Cinema. BRAVO!

A fotografia (Oscarizada) do mestre Storaro é um primor, assim como um som excepcional (também Oscarizado). A junção de músicas já existentes (como a canção "The End" do grupo The Doors que abre e fecha o filme) e uma envolvente trilha incidental (de Carmine Coppola & Francis Ford Coppola & Mickey Hart) é genial e perfeita. Os outros valores de produção também funcionam bem, a atmosfera do filme é ABSOLUTAMENTE espetacular. Além disto, nenhuma atuação deixa a desejar. A de Sheen é excelente, mas eclipsada por um trio de peso. O temperamental Brando (com uma voz - recitando poesia - e uma linguagem corporal de dar medo - sempre nas sombras), o frenético Hopper (cujo personagem descreve o de Brando como um "legitimo guerreiro poeta") e Duvall, o melhor de todos aqui, projetando uma aura de invulnerabilidade que se presta perfeitamente ao seu personagem (aquele mesmo que adora o cheiro de Napalm pela manhã).

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ELENCO PRINCIPAL:

Marlon Brando .... Col. Walter E. Kurtz
Robert Duvall .... Lt. Colonel William 'Bill' Kilgore
Martin Sheen .... Capt. Benjamin L. Willard
Frederic Forrest .... Engineman 2nd Class (EN2) Jay Hicks/'Chef'
Albert Hall (I) .... Chief Quartermaster (QMC) Phillips
Sam Bottoms .... Gunner's Mate 3rd Class (GM3) Lance B. Johnson
Laurence Fishburne .... Gunner's Mate 3rd Class (GM3) Tyrone Miller/'Mr. Clean'
Dennis Hopper .... Photo Journalist
G.D. Spradlin .... General R. Corman
Harrison Ford .... Colonel G. Lucas
Jerry Ziesmer .... Civilian (Jerry)
Scott Glenn .... Captain Richard Colby

DIREÇÃO: Francis Ford Coppola

ESCRITO POR: Joseph Conrad (autor do livro "Heart of Darkness") & John Milius e Francis Ford Coppola & Michael Herr

FOTOGRAFIA: Vittorio Storaro

OBRAS RECOMENDADAS DO DIRETOR: "THE GODFATHER I (1972)", "THE GODFATHER II (1974)", "APOCALYPSE NOW (1979)", "THE CONVERSATION (1974)" e "THE GODFATHER III (1990)".

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sexta-feira, 8 de junho de 2007

GROUNDHOG DAY (1993)

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"GROUNDHOG DAY (1993)"

Duração: 101'

Recomendação: 4/4

Phil Connors é apresentador da previsão meteorológica de um canal de TV e visita anualmente uma bizarra festividade na pequena cidade interiorana de Punxatawney. Sua equipe de campo é composta pelo cinegrafista Larry e por sua produtora Rita. Connors é um absoluto egocêntrico e com uma visão extremamente cínica do mundo e de todos, que odeia assistir a cerimônia em que o seu xará, Phil a marmota, faz a sua própria "previsão" sobre uma possível chegada antecipada da primavera. O "Phil de duas patas" grava uma apresentação bem "nas coxas" e faz questão da partida imediata.

Voltando para a sua cidade natal, no furgão de reportagem, os três são surpreendidos por uma nevasca, que contraria completamente a previsão de Connors do dia anterior. Eles têm que voltar a "capital nacional da marmota", mas o jornalista se recolhe cedo, deixando seus dois colegas aproveitando o restante das festividades. Quando ele acorda, as 6:00hs, ao som de Cher no despertador, ele percebe que é o "dia da marmota" DE NOVO! E tal ciclo continua a se repetir, dia após dia, sem que ele possa fazer nada para quebrá-lo (e ele recorre a todo truque possível e imaginável para se safar).

"Groundhog day" é SCIFI e também é uma fábula, mas evita com competência algumas armadilhas dos dois gêneros. Ele não se preocupa (de forma alguma) em explicar (em nenhum grau) o loop temporal em que Phil se vê preso. Perguntas como: "Porque?" "Como?" "O que (ou quem) fez isto?" Ficam no ar para que cada espectador construa a sua própria interpretação da história. Isto leva também a mensagem do filme, que é apresentada de uma forma sutil, gradual e envolvente. E não esfregada nas faces da audiência como muitas vezes ocorre em produções ditas: "família".

Inicialmente ao se ver preso em tal armadilha temporal, percebendo que pode manipular situações e pessoas para conseguir qualquer coisa que deseje e não ter que responder por seus atos no dia seguinte, Phil Connors se diverte em um festival de excessos: sexo, dinheiro, comida, adrenalina etc. Em um dado momento, a tentação é grande demais e ele decide fazer com que Rita se apaixone por ele. De fato ele consegue, mas Rita percebe (de forma intuitiva) que algo está errado e o encontro termina mal (com uma bofetada). Inseguro com o fracasso, ele não consegue mais repetir tal feito. Já perdidamente apaixonado por ela, que ele encontra toda manhã para cobrir a festa (de novo e de novo e de novo). Ele entra em depressão e decide se matar.

(Percebam que 34 "dias da marmota" são mostrados no Filme, mas o número total é indefinido, permitindo que Phil acumule suficiente conhecimento da cidade e das pessoas para fazer literalmente o que quiser.)

(Um ponto interessante é que ele faz exatamente o que uma pessoa de carne e osso faria em tais circunstâncias e não automaticamente assume alguma espécie de "missão divina".)

Connors rapta Phil (a marmota), dando origem a uma hilária perseguição de carros que termina com eles dois mortos. Para tudo recomeçar no dia seguinte as 6:00hs (ele tenta vários suicídios, mas o destaque vai para aquele em que ele se joga de um prédio, uma bela cena sem dúvida, esteticamente e dramaticamente). Ele, com tanto poder e sem poder morrer, começa a se achar uma divindade. Ele abre o jogo com Rita, que acredita nele. Ela acaba por adormecer na cama com ele e Phil diz que ela é a pessoa mais gentil e bondosa que ele já conheceu (em uma cena extremamente tocante e atuada com extrema sinceridade por Murray).

Tudo volta a estaca zero, mas Phil acorda renovado, passa a tratar todos bem, aprende a tocar piano, fazer esculturas de gelo, começa a ajudar e a salvar pessoas e recebe uma tremenda lição de humildade, ao não conseguir salvar a vida de um velho mendigo por mais que tente (mostrando que o seu poder tem limites). Na festa da noite do "dia da marmota", ele toca na banda e tudo que ele fez pela comunidade volta para ele com o carinho de todos os presentes. Rita fica muito impressionada e acaba "comprando" Phil em um "leilão". Eles vão dormir juntos e acordam no dia seguinte ao "dia da marmota". Phil fica muito feliz, mas percebe que nunca mais vai poder deixar aquela cidadezinha que se tornou tão especial para ele. Muito menos o seu amor, Rita.

Connors inicialmente mantém todo o seu cinismo e tenta tirar o melhor proveito da situação e só começa a fraquejar quando a experiência começa a se mostrar absolutamente inexorável e mesmo cruel. Como se dizendo que a única mudança que é realmente verdadeira e permanente em nossas vidas é aquela que se processa no interior de nós e que a falta de fé no mundo é a verdadeira mãe do cinismo (e provavelmente do pequeno envolvimento do povo nas causas sociais também).

Connors não gostava de si próprio e projetava a impressão que não gostava de ninguém por causa disto. Ele odiava a cerimônia com a marmota Phil, pois ela só o lembrava o quanto ele era infeliz em seu trabalho (ele é simplesmente a face da notícia e a marmota é a mascote de uma cerimônia - os óbvios paralelos, incluindo o próprio nome, eram demais para ele). Ele queria adoração e não amor. Ele procurava poder e não esclarecimento. Ele queria reverência e não gentileza. Temos idéias aqui que vão ressonar forte e de forma diferenciada para muita gente, sendo ai onde reside à beleza do filme.

Todas as idéias trazidas à tona pelo Filme são muito singelas, mas funcionam por que elas são apresentadas de uma maneira simples, honesta e contida (contido como é praticamente todo o humor do filme também - um dos principais motivos para o seu sucesso).

Harold Ramis (dublê de roteirista, produtor, diretor e ator - ele é o infame Dr. Egon Spengler dos filmes da série "Ghostbusters" E faz uma ponta como o neurologista que atende Phil Connors aqui) realizou literalmente o "trabalho da sua vida" com este filme. A forma como as múltiplas iterações da experiência de Phil foram apresentadas, tanto em termos do roteiro, quanto em termos da edição final do filme (uma tarefa realmente não trivial), são os seus maiores méritos técnicos. Além disto, o filme é bastante quadrado, mas curiosamente para o seu próprio benefício.

Bill Murray (de "The Royal Tenenbaums (2001)", "Ed Wood (1994) " e "Rushmore (1998)"), Andie MacDowell (de "The Player (1992)" e "Short Cuts (1993)"), Chris Elliott (de "The Abyss (1989)" e "There's Something About Mary (1998)") e Stephen Tobolowsky (de "Memento (2000)" e "The Insider (1999)") são os nomes mais importantes do elenco.

Tobolowsky fica com as partes mais histriônicas do filme, que felizmente são poucas. Elliot não têm muito que fazer, mas é curioso perceber, ao final, como o seu personagem não era o "coitadinho" que a sombra do "velho Phil" parecia dar a entender. Macdowell só precisa da cena inicial em que ela brinca sem jeito com a "tela azul" da previsão meteorológica, para que nós tenhamos certeza do poço de doçura que é a sua personagem. Era disto e somente disto que o filme precisava da atriz. Murray sustenta o filme aparecendo literalmente em cada cena, sem nunca deixar a peteca cair. Ele faz do cinismo de seu personagem algo tangível, mas utiliza subtexto para mostrar que existem motivos para tanto e também para angariar simpatia da audiência desde o inicio (sem falar que o seu "timming" cômico é absolutamente impecável). Mais tarde, quando Phil toma o seu caminho de redenção, as qualidades do personagem tem de onde aflorar (das sementes de subtexto que ele plantou) e Murray mantém uma pontinha de cinismo, garantindo a continuidade e credibilidade do personagem. Excelente trabalho!

Enfim, um Filme que pode ser apreciado superficialmente como uma divertida comédia, ou que pode trazer uma simples e verdadeira lição de vida se o espectador estiver disposto a se envolver um pouquinho mais. Uma das melhores comédias românticas (com um pé no gênero da Fantasia) da história do Cinema Americano.

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ELENCO PRINCIPAL:

Bill Murray .... Phil Connors
Andie MacDowell .... Rita
Chris Elliott .... Larry
Stephen Tobolowsky .... Ned Ryerson

DIREÇÃO: Harold Ramis

ESCRITO POR: Danny Rubin (história e roteiro) e Harold Ramis (roteiro)

FOTOGRAFIA: John Bailey

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