quarta-feira, 13 de junho de 2007

APOCALYPSE NOW (1979)

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"APOCALYPSE NOW (1979)"

Duração: 153'

Recomendação: 4/4

O capitão Willard (em uma rápida reunião com o general Corman, o coronel Lucas e um civil de nome "Jerry") recebe uma missão confidencial, matar o coronel Kurtz, um dos mais condecorados soldados do exército Americano. Kurtz enlouqueceu, se tornando uma espécie de figura messiânica para os montanheses Cambojanos, que agora formam o seu exército particular, ajudando-o a promover atrocidades que beiram o inacreditável. Willard e Kurtz são das forças especiais. Willard é literalmente um agente da C.I.A usando um uniforme.

Willard pega uma carona, rio Nung acima, de um pequeno barco patrulha, comandado pelo chefe Philips e com mais três tripulantes: o maquinista Hicks (um cozinheiro especialista em molhos), o armeiro Johnson (um surfista campeão) e o também armeiro Miller (um pivete). Durante a viagem eles consomem fartas quantidades dos mais diversos tipos de droga, ouvem rock e mesmo esquiam na água. Willard serve como os olhos da audiência nesta viagem rio acima, que se mostra eficiente para criar antecipação pelo encontro com Kurtz. Willard lê o relatório sobre o coronel à medida que mergulha mais e mais na loucura que vitimou aquele militar.

Willard e cia. precisam da ajuda do tenente coronel Kilgore (comandante de uma "cavalaria de helicópteros") para atravessar um ponto do rio em que o barco não pode passar. Eles o encontram pacificando uma aldeia, alvo do seu último ataque, e são objeto de uma equipe de reportagem (formada por Coppola e companhia, aliás). Kilgore (que distribui "cartas de baralho da morte" sobre as suas vítimas, como uma "assinatura pessoal") não está muito interessado em ajudar Willard, até que descobre que o tal local do rio é um excelente ponto para prática do surf. Apesar de ser um local bem guardado com artilharia antiaérea ele ordena o ataque, "por que Charlies não surfam".

Ai que acontece a seqüência mais marcante do filme, um ataque a base inimiga ao som da "Cavalgada das Valquírias" de Wagner. Após chegar ao solo, Kilgore ordena que alguns dos seus homens testem as ondas AINDA sob fogo inimigo. Querendo também entrar na água, ele ordena um ataque com napalm sobre a floresta. Após a brutal ofensiva ele respira fundo e diz: "Adoro cheiro de napalm pela manhã".

Seguindo viagem, a tripulação do barco patrulha ainda encontra: um tigre durante uma inocente colheita de mangas (reparem na fotografia que mostra Willard e Hicks infinitamente pequenos diante da natureza), um show (que termina em confusão) de coelhinhas da playboy para os soldados de um posto militar de abastecimento, a trivial revista de um barco que termina com o massacre de uma inteira família de inocentes e a última parada na ponte de Do-Lung (que é destruída e reconstruída todos os dias, com soldados que lutam completamente no piloto automático sem saberem ao menos quem é responsável pelo lugar - muitos pedem uma desesperada carona ao barco). Aqui Johnson se droga e fica doidão até o final. A partir deste ponto do rio, só restava mesmo Kurtz.

Ataques iniciais com armas de fogo e flechas ( e lanças) vitimam Miller (ao som de uma fita gravada por sua mãe) e Phillips (que ainda tenta levar Willard junto com ele) respectivamente. Finalmente os restantes chegam ao seu destino. Um estranho templo povoado por uma multidão de nativos, alguns militares Americanos (até mesmo o soldado que foi enviado anteriormente para tentar fazer o serviço agora aos cuidados de Willard, um certo capitão Colby) e um foto-jornalista (que acaba servindo como um enlouquecido "bobo da corte" para Kurtz). O tal "santuário" é decorado por corpos, corpos decapitados e cabeças.

Finalmente (com quase duas horas de filme) Willard encontra Kurtz, após uma breve conversa Willard fica preso por um bom tempo. Kurtz continua estudando o capitão e em certo momento deixa a cabeça de Hicks de presente no colo de Willard. Durante este tempo, Kurtz conta sobre o evento que o colocou pela primeira vez em contato com "O horror...".

Ele (com sua equipe das forças especiais) havia inoculado um vilarejo contra a poliomielite. Para pouco tempo depois ouvir os gritos desesperados de um velho e ver a pilha de pequenos braços arrancados pelo inimigo. Foi neste momento, em que Kurtz percebeu até que ponto os "Viet Congs" estavam dispostos a chegar para vencer o conflito, que ele entendeu pela primeira vez o citado "horror...".

Eventualmente Willard se torna "de casa". Ele pode ficar ou partir. Fica claro que Kurtz não consegue mais viver e que ele viu algo em Willard que o qualifica para o trabalho. O capitão volta ao barco pega um facão e se esgueira até o interior do templo onde massacra Kurtz ao mesmo tempo em que os nativos também massacram uma vaca em um ritual. Quando deixa o templo, Willard é saudado como seu novo Messias, pelos montanheses, mas não se interessa pelo cargo e toma Johnson pelo braço e segue rio abaixo, com a lembrança. "O horror... O horror... O horror...".

Curiosamente o mais popular filme sobre a guerra do Vietnam (e o melhor se quisermos realmente inclui-lo neste "nicho"), utiliza tal conflito primariamente como um meio para explorar os mais sombrios aspectos da alma humana. Ele parece dizer que somos afortunados o bastante se nunca experimentarmos o tal "horror" em nossas vidas. Desta forma nunca nos damos conta do quanto estamos sempre próximos a um abismo sem fundo. Como andamos sempre sobre uma fina linha de paralelepipedos ladeada pela escuridão sem fim. Kurtz conseguiu tal "iluminação" e ainda foi mais além tentando usar tal "conhecimento" para "cumprir melhor a sua missão". Mas as coisas não funcionaram e em um certo ponto tudo que restou foi o "Horror", com lampejos da mais pura e brutal lógica (o que torna tudo ainda mais assustador). Ao final, Willard se transforma em um instrumento da própria natureza, que expurga tal "deformidade". Ao final, com o que sobrou de sua humanidade, ele abre mão de tal poder, deixando para trás um lugar que nenhum homem deveria jamais visitar.

Ao contrário do que disse várias vezes o seu idealizador (Francis Ford Coppola), "Apocalypse Now" não parece de forma alguma um compromisso entre visão artística e arrecadação nas bilheterias. Pelo contrário. O filme é um épico de tal magnitude e escopo que encontra par apenas entre as melhores obras do gênero de um seleto e pequeno grupo de outros ilustres idealizadores (entre eles Eisenstein, Tarkovsky, Lean e Kurosawa).

O que mais impressiona na direção de Coppola é a sua paciência em criar imagens absolutamente marcantes e belíssimas à medida que a simples história toma o seu curso, sem se apressar, fazendo de CADA cena um grande momento por si só. Detalhando a viagem e continuamente surpreendendo a audiência com um aparentemente interminável arsenal de tomadas criativas e uma sensibilidade a toda prova. A atmosfera vai se tornando cada vez mais densa à medida que a história progride até a sua cena final. As composições em múltiplas camadas não se perdem em um virtuosismo estéril. Elas são uma das marcas registradas do diretor. Da mitológica cena de abertura até a emblemática visão de Willard aparecendo de dentro do pântano para matar Kurtz no final, o filme parece uma colagem de grandes momentos do Cinema. BRAVO!

A fotografia (Oscarizada) do mestre Storaro é um primor, assim como um som excepcional (também Oscarizado). A junção de músicas já existentes (como a canção "The End" do grupo The Doors que abre e fecha o filme) e uma envolvente trilha incidental (de Carmine Coppola & Francis Ford Coppola & Mickey Hart) é genial e perfeita. Os outros valores de produção também funcionam bem, a atmosfera do filme é ABSOLUTAMENTE espetacular. Além disto, nenhuma atuação deixa a desejar. A de Sheen é excelente, mas eclipsada por um trio de peso. O temperamental Brando (com uma voz - recitando poesia - e uma linguagem corporal de dar medo - sempre nas sombras), o frenético Hopper (cujo personagem descreve o de Brando como um "legitimo guerreiro poeta") e Duvall, o melhor de todos aqui, projetando uma aura de invulnerabilidade que se presta perfeitamente ao seu personagem (aquele mesmo que adora o cheiro de Napalm pela manhã).

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ELENCO PRINCIPAL:

Marlon Brando .... Col. Walter E. Kurtz
Robert Duvall .... Lt. Colonel William 'Bill' Kilgore
Martin Sheen .... Capt. Benjamin L. Willard
Frederic Forrest .... Engineman 2nd Class (EN2) Jay Hicks/'Chef'
Albert Hall (I) .... Chief Quartermaster (QMC) Phillips
Sam Bottoms .... Gunner's Mate 3rd Class (GM3) Lance B. Johnson
Laurence Fishburne .... Gunner's Mate 3rd Class (GM3) Tyrone Miller/'Mr. Clean'
Dennis Hopper .... Photo Journalist
G.D. Spradlin .... General R. Corman
Harrison Ford .... Colonel G. Lucas
Jerry Ziesmer .... Civilian (Jerry)
Scott Glenn .... Captain Richard Colby

DIREÇÃO: Francis Ford Coppola

ESCRITO POR: Joseph Conrad (autor do livro "Heart of Darkness") & John Milius e Francis Ford Coppola & Michael Herr

FOTOGRAFIA: Vittorio Storaro

OBRAS RECOMENDADAS DO DIRETOR: "THE GODFATHER I (1972)", "THE GODFATHER II (1974)", "APOCALYPSE NOW (1979)", "THE CONVERSATION (1974)" e "THE GODFATHER III (1990)".

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